Teorias Tecnológicas da Educação

"Assim como a máquina a vapor interferiu no modo como Marx, Nietzche e Freud pensaram a história, hoje o computador é um desses dispositivos técnicos pelos quais percebemos o mundo, não apenas no plano empírico, mas também num plano transcendental. A experiência pode ser estruturada pelo computador" - "Não é a primeira vez que a aparição de novas tecnologias intelectuais é acompanhada por uma modificação nas normas do saber e do ensinar"

Pierre Lévy

O grande impulso tecnológico do séc. XX marcou tanto as instituições escolares quanto as instituições sociais. Segundo alguns autores, durante os anos 60, via-se nas novas tecnologias a salvação de todo um sistema educativo. Para este objectivo ser atingido é necessário melhorar de forma concreta a tecnologia dos processos de comunicação pedagógica, se desejarmos obter uma melhor aprendizagem. É então necessário utilizar uma abordagem tecnológica e construir sistemas de ensino e de aprendizagem. Esta nova abordagem tecnológica, deu origem a novas formas de "estar" na educação: as teorias tecnológicas da educação.

Poderemos tentar detectar uma teoria tecnológica da educação, pelas seguintes características:

• O uso de uma terminologia que possivelmente irá incluir os seguintes termos: Processos, Engenharia, Comunicação, Formação, Hipertexto, Programação, Software, entre outros.
• Uma maior preocupação em instruir do que educar.
• A utilização intensiva dos componentes de comunicação, com a retroacção, no processo de ensino.
• A utilização de Novas Tecnologias
• Desejo de sistematizar o mais possível as diferentes etapas da formação.
• O desejo de utilizar rotinas sistemáticas

A preocupação desta abordagem educacional, não será tanto a natureza dos objectivos, mas a organização dos meios necessários para atingir esses fins. De acordo com os defensores destas novas teorias, o problema a resolver será o de como operacionalizar os processos educativos a fim de os tornar eficazes.
Dentro deste movimento tecnológico, podemos identificar duas grandes tendências: A sistémica da educação, que tem as suas origens nas pesquisas sobre a teoria geral dos sistemas, que permitiu melhorar, entre outros aspectos, a organização do ensino e conduziu ao design pedagógico. Esta corrente sistémica, consiste em examinar as relações entre os elementos em função das finalidades visadas. Neste caso, é necessário agir de forma sistemática e seguir um certo procedimento padrão. Este procedimento parte das análises das finalidades, das características do estudante, passa pela concepção de um sistema de ensino, a avaliação desse mesmo sistema (experimentação) e, finalmente, a introdução das modificações necessárias que irão terminar o processo ou apenas fechar o círculo de desenvolvimento.
Em segundo lugar, temos a chamada tendência hipermediática, que consiste na análise dos ambientes tecnológicos sob o ângulo da sua interactividade e na construção de sistemas cada vez mais interactivos, também chamados por alguns autores ambientes hipermediáticos ou ambientes multimédia. As principais investigações nesta área inspiram-se em certas teorias cognitivas do conhecimento e da engenharia informática, caracterizando-se, principalmente, pelo seu pragmatismo: neste caso aquilo que se pretende em ultima análise é um sistema que funcione, uma tecnologia eficaz, mais do que uma teoria muito elaborada.
Estas duas correntes não seguiram caminhos totalmente separados, mas influenciaram-se mutuamente, tendo cada uma retirado da outra o que mais lhe interessava. Desta forma, a abordagem do design pedagógico retirou das teorias da comunicação, os elementos de tratamento de informação. Forneceu, em contrapartida, ao ensino assistido por computador, uma descrição dos principais elementos do ensino. A abordagem hipermediática deu aos sistémicos, a noção de retroacção que se tornou uma componente de todas estas teorias.

Foi a natureza e a qualidade da sistematização do ensino que variaram ao longo dos anos em função da evolução dos conhecimentos e do impacto das novas tecnologias da informação. Actualmente, a questão essencial diz muito mais respeito ao impacto das teorias do conhecimento na construção de software dito inteligente. Foi nomeadamente o trabalho de Seymour Papert, no inicio dos anos 80, sobre a linguagem LOGO que deram o empurrão à pesquisa e criação de ambientes de aprendizagem abertos e informatizados. Papert sofreu a influência de Jean Piaget, sendo que actualmente as teorias cognitivas e construtivistas têm grande influência na construção destes ambientes de aprendizagem.